Cerca de 50% da população mundial sofrerá com, pelo menos, 1 episódio de dor nas costas durante a vida, causando enormes prejuízos econômicos para o empregado e empregador e gastos estratosféricos com saúde.
Se isso já aconteceu com você, não encare como apenas uma dor. A dor é um sinal de alerta do corpo para algo nocivo acontecendo, e com a coluna não poderia ser diferente.
Após anos de prática clínica, percebi que em pelo menos metade das consultas em ortopedia, a principal queixa é a DOR NAS COSTAS. Têm dias em que todas as consultas agendadas são por queixas de dores na coluna.
Não me lembro, em todos esses anos, de ter atendido algum paciente que me procurou diretamente para saber como não ter dor nas costas, seja para melhorar o desempenho no esporte, seja para adaptar sua rotina. Infelizmente não existe uma cultura de prevenção de doenças na ortopedia, sendo que somente somos procurados quando já há lesão instalada e, em quase 100% das vezes, são lesões incuráveis como nos casos de dores nas costas por artrose( desgaste, bicos de papagaio) e discopatia( desgaste dos discos).
Cerca de 90% das dores lombares são causadas por má postura, estilo de vida e sedentarismo. Os outros 10% são devidos a traumas, doenças congênitas. Isso prova que o nosso corpo paga o preço do nosso estilo de vida. A troca do trabalho fisicamente ativo pelo escritório fez com que fiquemos muito tempo sentados, gerando encurtamento muscular lombar, dos membros inferiores e tensão na coluna. Somando isso com o sobrepeso/obesidade, sedentarismo, temos o prato cheio para as lesões na coluna.
O que digo para TODOS os meus pacientes é: lesão na coluna( artrose, bico de papagaio, hérnia de disco) é uma doença crônica como hipertensão ou diabetes. NÃO HÁ CURA. Quem é hipertenso, por exemplo, deve tomar medicação, se exercitar e mudar a alimentação para sempre. Com a coluna é a mesma coisa, porém, com mudança do estilo de vida, reabilitação com fisioterapia, exercícios como musculação, pilates, yoga, escola de coluna, manejo do stress, entre outros¹.
Infelizmente, a dor lombar é negligenciada pelos médicos, que pouco orientam sobre como prevenir, sobre o mecanismo de lesão e como discretas mudanças do estilo de vida podem curar a dor.
Um outro ponto crítico sobre o impacto da dor lombar na sociedade é a quantidade de pessoas afastadas do trabalho. O custo que isso gera é enorme. Quando é necessário afastar alguém das atividades para receber auxílio-doença do INSS, por exemplo, eu explico: INSS não cura. Se o paciente ficar um ano afastado e nada fizer em termos de reabilitação, a dor persistirá, independente de benefício dado pelo governo.
É neste ponto que deveríamos ter a prevenção da doença na coluna. Não há medida alguma das sociedades médicas e ministério da saúde para tal. Uma população fisicamente ativa, com menos sobrepeso e obesidade, orientada sobre postura, alongamentos diários e com ergonomia no trabalho se beneficiariam, economizando as enormes cifras gastas com tratamento, menos prejuízo no trabalho e melhor rendimento.
Portanto, de nada adianta termos os melhores especialistas, os tratamentos mais atuais se a população não se conscientizar que a prevenção da lesão na coluna começa por si próprio. Meu sonho seria praticar a medicina/ortopedia preventiva, onde os pacientes nos procurassem para saber o que fazer para não ter a lesão. Aos poucos vamos alcançar o objetivo.
Mantenha-se ativo, pratique alongamentos, evite longos períodos sentado.
Em dúvida, procure seu médico para orientação.
Um abraço.
Dr Luiz Henrique Tintori.
¹: Exercice interventions for the treatment of chronic low back pain: a systematic review and meta-analisys of randomised controlled trials. Clin Rehabil December 2015 29: 1144